
"Entro no teu espaço invadido de cores e uma cidade espera-me sobre o cavalete, vermelha e luminosa, como de descoberta. Os teus olhos acendem um soluço. Palavras tensas de solidão e aventura. Qual o caminho que conduz à vertigem, à construção? Qual o medo? Na sombra dos segredos cresce uma água indefinida, de mansa loucura. A crispação do silêncio escorrrega sobre o corpo. A tua muda interrogação. De noites sobre areias interditas, violadas, a tactear a exacta dimensão da brisa nos cabelos, nos interstícios mais secretos da esperança. Uma mulher ergue-se vitoriosa e jubilante dos teus dedos em fúria. Rosto de sensualidade quase animal, onde aflora o desespero maior. O teu gemido diz mãe. Ou limpidez. O teu grito vibrante contra as encostas do conflito abre brechas na angústia, entornando cores, reduzindo sonhos, azuis de horas quebradas, cinzentos de embriaguês, brancos de ausências ou fugas verticais. Entro no teu espaço de sombras e relevos. Vejo-te deusa da dor mais solitária. Da promessa. Um dia, penetrarás na cidade imóvel sobre a tela e o teu rosto será o vermelho intenso da conquista."
Maria Graciete Besse
Maria Graciete Besse
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